De vendedor do comércio a técnico de enfermagem: veja profissões com mais afastamentos ligados a saúde mental em Piracicaba
Número de casos mais que dobrou em dois anos. Para especialista, entre fatores associados estão precarização do trabalho e facilidade atual para pedir o ben...

Número de casos mais que dobrou em dois anos. Para especialista, entre fatores associados estão precarização do trabalho e facilidade atual para pedir o benefício. Beneficiários aguardam atendimento em agência do INSS Antônio Cruz/Agência Brasil Vendedor de comércio varejista, alimentador de linha de produção e técnico de enfermagem são as profissões com mais profissionais afastados por motivos de saúde mental, em Piracicaba (SP), entre 2012 e 2024. Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba Os dados são Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e foram reunidos pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho. A seguir, veja a lista de profissões com mais casos do tipo: Quantidade mais que dobra em dois anos 📈 A quantidade de afastamentos por essa causa vem aumentando e mais que dobrou na metrópole nos últimos dois anos. Em 2022, foram 475 afastamentos, enquanto em 2024 foram registrados 1.178, o maior número desde o início da série histórica, em 2012. Veja no quadro: 94 mil dias perdidos em 2024 🗓️ Os dados também mostram que, somando todos os períodos de afastamento, esses trabalhadores perderam 94,1 mil dias de vida saudável e atividade produtiva no ano passado. O ano com maior quantidade de dias perdidos foi 2023, com 104,1 mil. O que está por trás do aumento? 🔍 Advogado especialista em direito previdenciário e professor de direito, Vinícius Pacheco Fluminhan elenca cinco fatores que podem estar associados ao aumento no número de afastamentos: 1) Precarização do trabalho O acadêmico aponta que, nos últimos anos, tem ocorrido uma precarização das relações de trabalho. "Uma precarização no sentido de que nós temos muito trabalho informal, no sentido de que nós temos uma cobrança em excesso pela necessidade de redução de custos por parte da classe empresarial. Então, salários baixos com altas cargas de trabalho, jornadas excessivas, cansativas, estressantes, com uma baixa remuneração, o que obriga às vezes a pessoa a ter mais de uma ocupação, mais de um emprego", explica. Segundo ele, isso é comum nas áreas de saúde e educação, que têm profissionais entre aqueles com mais afastamentos. Entre os reflexos na saúde mental, o acadêmico cita depressão, ansiedade e burnout. 2) Facilidade atual para fazer o pedido Um outro fator, segundo Fluminhan, seria a facilidade oferecida para uma pessoa fazer a solicitação do benefício por incapacidade atualmente. "Até a pandemia, [...] tinha que ir lá [na agência], pegar a fila, esperar a vez, para dar a entrada, para depois voltar um outro dia para fazer perícia, num dia e horário que não são escolhidos pela pessoa. [...] Havia um certo trabalho para você pedir um benefício e brigar pela concessão dele", relembra. Já atualmente, a solicitação pode ser feita pela internet, com alguns cliques. Outra facilidade recente é a perícia remota. "A pessoa faz o upload dos documentos médicos, dos relatórios, os exames, os laudos, e o INSS faz essa perícia remotamente, analisando os documentos", completa. 3) Número de pessoas sem ocupação formal Para o advogado e professor, outro fator que pode estar associado à alta é a quantidade de pessoas sem emprego formal, que ele considera "considerável". "Aquela pessoa que até tem alguma aptidão, mas que carrega uma doença que traz alguma limitação, enquanto está empregada, não se importa com aquela incapacidade. A partir do momento que ela fica desempregada, com aquela angústia de arrumar renda para poder pagar as contas, ela passa a vislumbrar a possibilidade de pedir um benefício por incapacidade [...]. Isso é histórico toda vez que se tem um mercado de trabalho menos aquecido", aponta. Atendimento em agência do INSS Pedro França/Agência Senado 4) Nova geração no mercado de trabalho O professor também cita como possível fator a chegada ao mercado de trabalho da nova geração, que faz uso prolongado de recursos digitais. "Hoje, nós sabemos o quanto o celular e o uso excessivo de telas fez mal para essa geração. [...] Então, o aumento da depressão entre os jovens, o aumento da ansiedade entre os jovens, como alguns estudos já mostram, em algum momento vai desaguar no mercado do trabalho", avalia. 5) Cultura das empresas O último fator elencado por Fluminhan é o comportamento das empresas de olhar apenas para o lado da exploração da força de trabalho, sem humanizar o trabalhador, avaliando suas necessidades e compromissos familiares e sociais. "Em muitos casos, os afastados poderiam estar trabalhando e não estão, talvez, por intolerância das empresas [...] Pessoas que poderiam exercer alguma outra tarefa, uma função semelhante àquela que desenvolvia, num setor diferente. Nem todas as empresas têm essa capacidade de se adaptar e de colaborar com o sistema como um todo. E aí, claro, é muito mais cômodo jogar para a INSS", finaliza. Quais são os reflexos no sistema previdenciário? 💵 O acadêmico lembra que o sistema previdenciário é sustentado por receitas que já estão definidas, por meio de tributos cobrados da população. Por outro lado, a quantidade de benefícios por afastamento é variável. "Esse aumento no número de benefícios, certamente, traz um gasto maior. E, trazendo um gasto maior, nós temos que considerar duas possibilidades para que a conta fique fechada: ou aumento de tributos para fazer frente a esse aumento das despesas, ou [...] uma prestação de serviços piorada no âmbito do INSS. Processos que demoram, perícias que demoram, por falta de funcionário, por acúmulo de serviço, acúmulo de processos, um reajuste não muito generoso dos benefícios", elenca. VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e região