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Documentário dá voz a idosos e às suas receitas para envelhecer bem

Na coluna de quinta, escrevi a respeito de um livro recém-lançado que destaca a importância dos laços sociais para uma vida longa. Volto ao tema após assis...

Documentário dá voz a idosos e às suas receitas para envelhecer bem
Documentário dá voz a idosos e às suas receitas para envelhecer bem (Foto: Reprodução)

Na coluna de quinta, escrevi a respeito de um livro recém-lançado que destaca a importância dos laços sociais para uma vida longa. Volto ao tema após assistir ao documentário "Conversas nas Zonas Azuis", dirigido por Gabriel Martinez, que estreia no dia 27 com sete sessões gratuitas em São Paulo. Depois, estará disponível no canal Além do Aposento. O diretor, que já brindou o público com "Envelhescência", "Além do aposento" e "O envelhecer de cada um", mergulha novamente na temática, e, desta vez, apresenta o resultado de uma espécie de “expedição da longevidade”, realizada ao longo de dois meses. Flávia Galliazi, de 97 anos, ensina que o importante é aprender a perdoar, “não guardar rancor” Divulgação Ao lado da jornalista Lilian Liang, produtora-executiva do filme, o cineasta percorreu as cinco Blue Zones – Nicoya (Costa Rica); Loma Linda (EUA); Okinawa, (Japão); Icária (Grécia); e Sardenha (Itália) – regiões reconhecidas por abrigar populações com altas taxas de longevidade, e incluiu a pequena cidade brasileira de Veranópolis no documentário, cujo trailer pode ser conferido nesse link. Foram mais de 70 entrevistas realizadas com idosos e pesquisadores, mas, para mim, a grande contribuição do filme é mostrar que a longevidade ativa não depende de viver num ponto geográfico específico do planeta. Aliás, vale lembrar que, em 2024, os dados das Blue Zones passaram a ser questionados: foram apontados erros de registro que teriam inflado o número de centenários. Polêmicas à parte, voltemos a Veranópolis, que fica a 180km de Porto Alegre e tem apenas 24 mil habitantes. Na entrada, um pórtico anuncia: Terra da longevidade. Ali funciona o Instituto Moriguchi, que se dedica ao estudo do envelhecimento. Graças ao trabalho do geriatra Emilio Moriguchi, coordenador-geral do “Projeto Veranópolis”, foram produzidos dezenas de artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre a longevidade dos moradores da cidade. Não há como ignorar a passagem do tempo: a maioria dos idosos coleciona perdas e apresenta limitações, mas há graça e leveza na forma como a velhice é encarada. David Mazzarollo, de 93 anos: “Não fico parado. Se canso, paro uns dez minutos e recomeço” Divulgação Qual seria a fórmula para envelhecer bem? Há diversos ingredientes na receita: estilo de vida ativo, conexões sociais, senso de propósito, espiritualidade. David Mazzarollo, de 93 anos, diz que já operou joelho, vista e tem apenas um rim. Acorda para alimentar as galinhas, corta lenha e, se precisar, pega a enxada. “Não vou ficar parado. Se canso, paro uns dez minutos e recomeço”. Flavia Galliazi, de 97, ensina: “o importante é aprender a perdoar, não guardar rancor”. Apesar da minha clara preferência pelos moradores de Veranópolis, Martinez também deu voz a personagens comoventes de outras regiões. Como Paul Damazo, de 98 anos: “tenho projetos para os próximos três anos. Em um ano, perdi cinco amigos ‘preguiçosos’ que não viam a hora de se aposentar e não fazer nada”. Ou Ramiro Guadamuz, de 101, que continua trabalhando no pastoreio e, diariamente, pega seu cavalo para cuidar do gado. E Nobuko Oshiro, professora de caratê que, aos 75 anos, pretende dar aulas até os 100. Moriguchi afirma que, de todas as peças do quebra-cabeça da longevidade, a essencial é a dos relacionamentos: “aprendi isso aqui, antes de os primeiros artigos serem publicados. Meu maior desejo é que ninguém mais chegue a um ambulatório dizendo que envelhecer é um castigo”. SERVIÇO: Estreia do documentário "Conversas nas Zonas Azuis": de 27/11 a 03/12. De quinta-feira a domingo, às 14h; de segunda a quarta, às 18h, no Cine Marquise, Sala 3, no Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073). Ingressos gratuitos via Sympla (sujeito a lotação).