Especialistas veem avanços pontuais e falta de ambição no rascunho final da COP30; ‘não trata a crise como crise’, diz Greenpeace
Estatueta exposta na COP30 não tem cunho religioso g1 As primeiras reações às novas versões de rascunhos dos textos finais da COP30 mostram um clima de ava...
Estatueta exposta na COP30 não tem cunho religioso g1 As primeiras reações às novas versões de rascunhos dos textos finais da COP30 mostram um clima de avaliação dividida: há reconhecimento de progressos pontais, mas também frustração com lacunas consideradas essenciais para compatibilizar as negociações com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C. A percepção entre especialistas, ONGs e autoridades internacionais é de que o pacote proposto mantém a direção do Acordo de Paris, mas não entrega a escala de mudança necessária, especialmente em combustíveis fósseis, desmatamento e financiamento para adaptação — pontos que dominaram os debates em Belém. Greenpeace: “Não trata a crise como crise” A Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil, disse que o texto atual está “longe de ser uma resposta à altura da crise”. Para a organização, o documento falha em três aspectos centrais: não reconhece a crise climática como crise, não apresenta mapa ou caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis e o fim do desmatamento até 2030, e não garante que os recursos de adaptação serão mobilizados na escala necessária. Veja os vídeos que estão em alta no g1 Carolina lembra que mais de 80 países defenderam um roteiro para sair dos fósseis e mais de 90 pediram um roteiro para acabar com o desmatamento. Ambos foram bloqueados por um grupo minoritário. “Não trata a crise como crise; não traz nem mapa e nem caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento até 2030, e não garante que os recursos necessários para adaptação”, resumiu. Financiamento para adaptação: meta é avanço, mas aquém do esperado No campo financeiro, a leitura é um misto de avanço estrutural e ambição insuficiente. O especialista Benjamim Abraham, da Talanoa, destaca que o texto “faz um movimento importante” ao propor triplicar o financiamento para adaptação até 2035 — com países desenvolvidos na liderança. Mas ele alerta: a meta final ainda não está fechada e depende dos dados de referência de 2025; países vulneráveis esperavam mais ambição; o texto, apesar disso, exige aumento imediato do financiamento por parte dos países desenvolvidos. Em um contexto de cortes recentes na assistência internacional, ele vê a sinalização como “necessária”, mas ainda distante do volume requerido para proteger populações expostas. Florestas e indígenas A The Nature Conservancy (TNC) vê avanços importantes, mas alerta para sinais de preocupação no texto da Decisão Mutirão. Para Clare Shakya, diretora global de Clima da organização, o fato de as florestas aparecerem apenas de forma isolada no documento “é um alerta importante”, especialmente em uma COP sediada “às portas da Amazônia”. Ainda assim, ela destaca que progressos como o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), o reforço à segurança territorial indígena e a inclusão da Bacia do Congo no pacote negociado devem servir de impulso para fortalecer os esforços globais de conservação de ecossistemas essenciais ao clima. John Verdieck, diretor de Política Climática Internacional da TNC, avalia que o Brasil “cumpriu sua missão de recolocar a natureza no centro do processo da UNFCCC”. Segundo ele, a presença do tema no início do texto do Mutirão reforça o papel das soluções baseadas na natureza, consideradas capazes de entregar até um terço das reduções de emissões necessárias para manter o Acordo de Paris viável. Para a TNC, a centralidade das florestas e dos povos que as protegem é indispensável para fechar a lacuna entre ambição e implementação. União Europeia: “Texto vai na direção certa, mas falta ambição” Do lado das autoridades, as primeiras reações foram de apoio crítico. O comissário europeu para o clima, Wopke Hoekstra, afirmou que a UE preferia um texto “mais forte em todos os pontos”, mas que ainda assim considera o documento “um passo na direção certa”. Ele enfatizou dois fatores: o valor intrínseco do multilateralismo, especialmente em um cenário geopolítico tenso; o fato de que, mesmo sem um roadmap explícito no texto, a Presidência brasileira se comprometeu a seguir adiante com a iniciativa. “Clima precisa de mais luta, mais ação, mais entrega… mas, diante do equilíbrio geral, é algo que devemos apoiar”, disse Hoekstra. Para ele, o pacote representa um avanço em mitigação, financiamento e solidariedade com os mais vulneráveis.