Garça é flagrada com copo plástico preso no pescoço
Imagem foi feita no Rio de Janeiro. Especialistas enfrentam desafios para capturar a ave para retirada do material plástico. Garça com copo plástico preso no...
Imagem foi feita no Rio de Janeiro. Especialistas enfrentam desafios para capturar a ave para retirada do material plástico. Garça com copo plástico preso no pescoço é flagrada no RJ Jeferson Pires Uma cena incomum e alarmante chamou a atenção do veterinário Jeferson Pires no começo do mês de dezembro: uma garça-moura (Ardea cocoi) foi avistada com um copo plástico preso no pescoço, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. O registro foi feito quando Jeferson se dirigia para buscar sua filha na escola, avistando a ave próxima a um rio. Inicialmente, o veterinário acreditou que o copo plástico estivesse atravessado na região do esôfago da garça, o que a deixaria mais vulnerável a captura em poucos dias. No entanto, com o passar de mais de dez dias desde o primeiro avistamento, a ave continua se mantendo viva, o que sugere que de, alguma forma, ela está se alimentando. “Se tivesse atravessado, ela não conseguiria ter comido nada. Ela está provavelmente conseguindo comer algo, porque ela está se mantendo viva. Eu acredito que uma garça consiga sobreviver sem comer de três a cinco dias. Se ela está assim há tanto tempo, significa que está passando algo”, explica o veterinário. De acordo com Jeferson, por ela estar “relativamente bem”, a garça ainda consegue voar de maneira excelente e não permite aproximação a menos do que 15 metros de distância, o que dificulta a captura do animal para o tratamento. “Quando ela observa alguém, ela já voa. Então, isso aí é o que mais dificulta. É um animal que voa bem. E a gente acaba tendo muita dificuldade em conseguir fazer essa captura”, explica Jeferson. Garça-moura se alimenta de peixes, sapos, caranguejos, moluscos e pequenos répteis Luiz Tambasco/VC no TG A operação para a captura da ave conta com o apoio da Patrulha Ambiental através da prefeitura do Rio de Janeiro, juntamente com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), do Ibama. No dia 8 de dezembro, a equipe que trabalha pelo resgate da garça-moura conseguiu imagens através de um drone para tentar ver outros detalhes. Há a suspeita de que um o copo esteja dentro de um saco plástico, daqueles usados para colocar frutas nos supermercados. Guilherme Brito, ornitólogo e professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, explica que, dependendo do ferimento, a dor e o incômodo podem deixar as aves com movimentos limitados, levando-as as se esconderem. “A gente não tem nem muita certeza exatamente se isso está gerando algum dano maior. A gente sabe que ela tá incomodada, porque geralmente grande parte das vezes a vemos bicando a região, ou seja, ela tá incomodada com aquilo”, informou o médico veterinário. Beira de lagos de água doce, rios, estuários, manguezais e alagados são os ambientes preferidos da garça-moura Rudimar Narciso Cipriani Inicialmente, o plano da equipe para capturar a garça era aguardar para ver se a ave, debilitada, favoreceria uma aproximação. Como ela se manteve bem durante esse tempo, acabaram tendo que mudar de estratégia. “Agora a gente vai cevar ela. Então criamos uma plataforma no local onde ela mais costuma ficar e nessa plataforma nós vamos colocar diariamente peixe para ver se ela começa a se alimentar ali deles. A partir do momento que ela começar a frequentar e se alimentar desses peixes a nossa estratégia vai ser tentar fazer a captura com laço”, explica o médico veterinário do CRAS. Mesmo assim, ainda existe o risco da ave começar a evitar a área. “Se a gente começar a frequentar ali de uma maneira mais intensa, tá arriscado ela começar a evitar, então ela tem que se sentir confortável e a gente precisa conseguir fazer um planejamento de procedimento que seja um procedimento rápido e eficaz”. Segundo ele, se por um acaso o copo estiver alojado na região do esôfago, será necessário uma cirurgia para a remoção, mas caso seja externo, a remoção e a avaliação pós procedimento já serão suficientes para a soltura segura da ave. O que pode ter levado a ave a ingerir o copo? De acordo com Guilherme, o animal não identifica o objeto como algo não comestível. As cores, texturas e eventuais brilhos podem chamar a atenção da ave, que pode avaliar esse objeto como algo passível de ser ingerido. “Garças são piscívoras, vários peixes tem brilho prateado, não sei se o copo plástico estava com a tampa de alumínio, o que poderia confundi-la”. “O problema da poluição por plásticos é bem estudado, principalmente em ambientes aquáticos. Em algumas espécies marinhas a prevalência de resíduos de macroplásticos (maiores que 5mm) nos estômagos atinge valores superiores a 80% dos indivíduos”, explica o ornitólogo. Especialistas enfrentam desafios para capturar a ave para retirada do material plástico Jeferson Pires Aves marinhas como petréis e albatrozes são consideradas “sentinelas dos oceanos” e geralmente são os mais atingidos por uma série de problemas antrópicos e os primeiros a responderem negativamente a essas interações. Incidentes como esses refletem a maneira como a humanidade trata os ambientes naturais, geralmente envolvendo uma completa falta de consciência ambiental. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente