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Há 20 anos, história de líder religioso negro de Sorocaba virava filme protagonizado por Lázaro Ramos; relembre bastidores

Filme lançado há 20 anos conta a história de João de Camargo Na Sorocaba (SP) de ruas e avenidas intensas, cercadas por trânsito e construções modernas, ...

Há 20 anos, história de líder religioso negro de Sorocaba virava filme protagonizado por Lázaro Ramos; relembre bastidores
Há 20 anos, história de líder religioso negro de Sorocaba virava filme protagonizado por Lázaro Ramos; relembre bastidores (Foto: Reprodução)

Filme lançado há 20 anos conta a história de João de Camargo Na Sorocaba (SP) de ruas e avenidas intensas, cercadas por trânsito e construções modernas, uma capela surge como refúgio. Quem visita a Capela Senhor do Bonfim, em uma das vias mais movimentadas da cidade, encontra um espaço para meditação, conexão com a fé e preservação da cultura e da história do povo preto. O templo ecumênico foi construído por João de Camargo, cuja trajetória ganhou as telas há 20 anos. O filme Cafundó, de 2005, retrata a contribuição do líder espiritual para a comunidade negra e para o desenvolvimento da cidade. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp João de Camargo, líder espiritual, teve a vida contado no filme Cafundó, em 2005. Capela construída pelo religioso é local de refúgio, fé e ancestralidade em Sorocaba (SP) TV TEM A Capela Senhor do Bonfim, erguida há mais de um século, inspira gerações. A própria ideia do longa-metragem nasceu da curiosidade de um menino que visitava o espaço ao lado do avô. Esse menino, Paulo Betti, cresceu, tornou-se ator e diretor, e transformou aquela memória em um sonho realizado. "Eu ia visitar meu avô na roça, nas plantações de arroz, de feijão, e depois meu avô me levava na igreja do João de Camargo, aquela igreja maravilhosa tombada pelo Patrimônio Histórico misteriosa. Eu entrava e ficava com medo. Era curioso entrar no ambiente da igreja, com todos os santos, caboclos, estátuas. Mas também era muito fascinante pra mim", comenta o ator. Paulo Betti estudou a vida de Nhô João, como João de Camargo é carinhosamente chamado, por dez anos. Nesse período, começou a criar maneiras de arrecadar os quase R$ 6 milhões necessários para tirar o projeto do papel. "Comecei a recolher coisas que afirmassem a importância do assunto, não só pra mim, mas pra cidade. Tive dificuldades na época porque era um filme sobre um homem negro. As pessoas não conseguiam entender a importância desse homem negro. Embora tenha a igreja fantástica que ele construiu, mesmo assim, muita gente questionava o motivo de eu fazer um filme sobre ele. Tive muita dificuldade de levantar orçamento pra fazer o filme, porque era um filme de temática religiosa." Paulo Betti dirigiu filme 'Cafundó', que retrata a história de João de Camargo, líder espiritual de Sorocaba (SP) TV TEM Para interpretar João de Camargo, um jovem ator entrou em cena. Hoje, conhecido nacionalmente, Lázaro Ramos conta que interpretar Nhô João foi muito desafiador. "Paulo Betti, de forma muito apaixonada, me falou que tinha uma pessoa da cidade onde ele nasceu que o Brasil precisava conhecer. Foi um personagem muito desafiador, porque começa ali, quando ele tinha uns 20 e poucos anos, vai até a velhice, o que pra um ator é um grande desafio, mas com uma história muito consistente", relembra. "Cafundó é um resgate de memória importante que precisava ser ampliada pra mais gente conhecer", completa Lázaro. Lázaro Ramos interpretou João de Camargo, líder espiritual que viveu em Sorocaba (SP) e que construiu capela TV TEM No primeiro teste de caracterização, a direção enxergou em Lázaro a figura do religioso retratado no filme. Quem conviveu com João de Camargo relata que ele era um homem negro, magro, que estava sempre elegante, com aparência serena e um olhar acolhedor. "Não me acho parecido, não, mas, magicamente, coisas que acontecem na magia do cinema, vendo o filme eu percebo uma proximidade. Quando eu me olho, eu vejo que não tem semelhança, mas, talvez, porque eu fui alimentado com muita informação do Paulo, leituras, fotos que eu ficava olhando pra tentar pegar o espírito dele, o mais simbólico desse personagem, que representa tanto a religiosidade", analisa Lázaro. Lázaro Ramos caracterizado como João de Camargo, para o filme Cafundó, de Paulo Betti TV TEM A equipe do filme contou com mais de 200 pessoas. Entre elas, Cassiane Souza, que foi produtora local de Cafundó. "Eu comecei como captadora de recursos, junto com o Paulo, indo nas empresas para a gente conseguir dinheiro para a produção do longa. Depois, a parte local de estudos. Maquetes, todas essas coisas a gente foi montando. Nós filmamos no Paraná. Precisávamos de mulas, fomos até Itapetininga, conseguimos as mulas. Os figurantes foram daqui [Sorocaba]. Esse filme teve uma união que acho que eu nunca vi igual", relembra a produtora. Na época em que interpretou Cirino, Leandro Firmino já era conhecido pelo papel de Zé Pequeno, no filme Cidade de Deus. Cafundó surgiu como um teste pessoal, segundo o ator. "Quando surgiu a oportunidade de fazer parte do elenco do Cafundó, fiquei muito feliz, lógico, estar em outro projeto. Mas era um projeto numa época que eu me perguntava se eu daria continuidade ou não." Cirino foi um amigo de João de Camargo, presente em vários momentos da vida do líder. Ator Leandro Firmino interpretou Cirino, amigo de João de Camargo que esteve presente em diversos momentos da vida do religioso Reprodução A atriz Leona Cavali interpretou Rosário, companheira que depois de um tempo abandonou João de Camargo. Ela conta que a avó era devota de João de Camargo. "Nasci numa cidade chamada Rosário do Sul, no interior do Rio Grande do Sul, e a minha avó era devota de João de Camargo. O Brasil é negro, é indígena, também é branco, mas a predominância não é essa. Então, o fato da cultura agora estar trazendo essa realidade do povo brasileiro é um ganho, é uma riqueza cultural, mas é também uma função, uma reparação e ilumina um pouco da nossa história." Além de atores renomados, muitos moradores de Sorocaba participaram da obra como figurantes. Alguns tiveram mais destaque: Wesley Aprile, hoje formado em engenharia, "deu vida" ao personagem Natalino. "Lá no 'quilombolinho', no Clube 28 de setembro, eu estava brincando, era um dia normal. Aí chegou o pessoal da produção do filme com a proposta da gente fazer uns testes, de forma lúdica, umas brincadeiras, e através dessas brincadeiras que foi rolando os testes pra saber quem que iriam ser os escolhidos para fazer o filme. Foi de um jeito bem simples mesmo, que a gente nem sabia exatamente o que estava acontecendo. O filme, sem dúvidas, foi porta de entrada para o mundo da arte", celebra Wesley. Premiações Cafundó ganhou treze prêmios nacionais e internacionais. Cinco foram no festival de Gramado, antes mesmo da estreia nas salas de cinema. Em uma visita a Sorocaba, Lázaro Ramos comentou sobre o reconhecimento que a história e ele receberam. "Eu sou bem privilegiado porque já ganhei 23 prêmios com os outros filmes todos que eu fiz, mas nunca tive dinheiro, esse prêmio tem essa vantagem de ter um dinheirinho, R$ 30 mil. Vou montar meu espetáculo de teatro", revelou o ator na época. O ator visitou a Capela Senhor do Bonfim duas vezes após as gravações. Uma das visitas aconteceu no mesmo dia em que foi premiado no Festival de Cinema de Gramado. Cafundó: a história por trás do líder espiritual que marcou Sorocaba (SP) TV TEM Samba-enredo A história de Nhô João também inspirou um samba-enredo do Império de Casa Verde, em 2003. Um marco pra escola que desfilava pela primeira vez no grupo especial. "Profeta, Santo, irmão, ilumine a nossa nação. Ôh, João. À bença, meu pai", diz o enredo. Mais de 80 anos após a sua morte, João de Camargo segue sendo sinônimo de esperança, acolhimento e resistência preta. "Um homem preto, que deveria ter a vida contada nas escolas", afirma Leandro Firmino. "Eu sou devoto de João de Camargo", ressalta Paulo Betti. "Eu acho que o João de Camargo estava com a gente em todo o processo e comigo durante todo o tempo. Não pareço fisicamente, mas acho que teve um conexão que ajudou a contar a história", comenta Lázaro Ramos. Capela Senhor do Bonfim, construída há mais de 100 anos por João de Camargo, guarda parte da memória do líder espiritual TV TEM Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM