Homem deve urinar em pé ou sentado? Decisão pode influenciar próstata, higiene e até cheiro do banheiro
Pesquisa mostra partículas pelo banheiro ao urinar em pé Vídeos que circulam nas redes sociais usam luz especial, corantes e testes caseiros para mostrar par...
Pesquisa mostra partículas pelo banheiro ao urinar em pé Vídeos que circulam nas redes sociais usam luz especial, corantes e testes caseiros para mostrar partículas se espalhando pelo banheiro quando homens fazem xixi em pé. A curiosidade gerada pelas imagens esbarra em um debate mais técnico, investigado por urologistas e estudos científicos: quando a posição ao urinar importa (e quando ela não muda nada). A resposta envolve a fisiologia da micção, o funcionamento da bexiga, as mudanças que ocorrem no organismo masculino ao longo da vida e também questões de higiene e odor do banheiro, explicam urologistas. A seguir, o g1 detalha. O que a ciência já conseguiu medir A principal evidência científica sobre o tema vem de uma revisão sistemática e meta-análise publicada na revista PLOS One, que analisou 11 estudos comparando homens que urinavam em pé e sentados. Os pesquisadores avaliaram o fluxo urinário máximo, tempo da micção e volume de urina residual, aquela que permanece na bexiga após urinar. O resultado foi consistente: em homens jovens e saudáveis, não houve diferença significativa entre as posições; em homens com sintomas urinários, especialmente ligados ao aumento da próstata, a posição sentada esteve associada a menor resíduo urinário e a um perfil miccional mais favorável. Na prática, menos urina residual significa menor risco de infecções urinárias, menor chance de formação de cálculos na bexiga e menos sensação de bexiga sempre cheia. xixi sentado AdobeStock Como o corpo masculino urina e por que o relaxamento é central Urinar não deveria exigir esforço. Em condições normais, o processo depende de uma sequência coordenada: o esfíncter relaxa e a bexiga se contrai para expulsar a urina. Quando isso acontece sem resistência, o esvaziamento é eficiente. “Se o paciente precisa fazer força para urinar, isso já foge do padrão normal”, explica Tiago Serra David, urologista do Hospital Sírio-Libanês. “A força indica que a bexiga não está conseguindo vencer alguma resistência.” Esse esforço costuma estar associado a crescimento da próstata, estreitamento da uretra ou redução da força do músculo da bexiga. Além disso, fazer força repetidamente ativa a chamada manobra de Valsalva, que aumenta a pressão dentro do abdômen. “Em pessoas com determinadas condições, esse aumento de pressão pode favorecer refluxo de urina para os ureteres e os rins, além de sobrecarregar estruturas que já não estão funcionando bem”, diz o médico. Por que isso se torna relevante com a idade O crescimento benigno da próstata, chamado de hiperplasia prostática benigna, é extremamente comum. Estimativas médicas indicam que cerca de metade dos homens acima dos 45–50 anos já apresenta algum grau de aumento prostático, mesmo que ainda sem diagnóstico formal. “O aumento da próstata altera a dinâmica da micção: o jato fica mais fraco, a urina demora mais a sair e o homem passa a fazer força sem perceber”, explica Mauro Gasparoni, coordenador da Urologia da Rede Total Care, no Rio de Janeiro. Nesses casos, sentar para urinar pode ajudar porque facilita o relaxamento do assoalho pélvico, reduzindo a resistência à passagem da urina. “É uma medida comportamental simples, sem custo e de baixo risco, que vale ser testada individualmente”, afirma. xixi em pé Adobestock Jato fraco, noctúria e risco de quedas Outro ponto pouco discutido é a noctúria, quando o homem acorda várias vezes à noite para urinar, outro sintoma comum em quem tem próstata aumentada ou urina residual elevada. Urinar sentado à noite pode não tratar a causa da noctúria, mas reduz o esforço, facilita o esvaziamento e diminui o risco de quedas, especialmente em homens mais velhos ou sonolentos. “A experiência da micção também importa. Menos esforço e menos interrupções ajudam o paciente a voltar a dormir mais rápido”, explica Eduardo Mazzucato, urologista do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas. O que mostram os testes com luz ultravioleta Parte da repercussão sobre o tema vem de experimentos conduzidos pela empresa britânica QS Supplies, que combinou um levantamento com mais de mil pessoas e dezenas de simulações de jatos urinários sob luz ultravioleta para observar a dispersão de gotículas invisíveis a olho nu. Nos testes, todas as simulações de micção em pé geraram respingos que ultrapassaram o vaso sanitário, atingindo a borda, o assento, o chão e superfícies próximas. A maior distância percorrida por uma gotícula foi de cerca de 90 centímetros, praticamente um metro. Um dado chama atenção no contexto doméstico: uma em cada quatro pessoas disse manter a escova de dente dentro desse raio de distância do vaso, o que reforça a recomendação de não deixar objetos de higiene pessoal expostos no banheiro. xixi em pé Reprodução/QS Supply Mirar ‘onde suja menos’ pode piorar O levantamento também mostrou que a forma como o homem mira ao urinar em pé influencia diretamente a quantidade de respingos — e nem sempre como se imagina. Entre os homens que costumam urinar em pé, 31% disseram mirar na parede traseira do vaso, acreditando que isso reduziria a sujeira. Nos testes, porém, essa foi justamente a superfície que gerou mais gotículas e maior dispersão. Mirar diretamente na água reduziu a formação de aerossóis finos, mas ainda produziu respingos maiores, que às vezes alcançaram a borda. A área que gerou menos dispersão foi a parte frontal interna do vaso, próxima à água — uma técnica pouco intuitiva, usada por apenas 4% dos homens entrevistados. Ainda assim, nenhuma técnica eliminou totalmente os respingos quando a micção ocorreu em pé. Respingo invisível e mau cheiro Outro achado relevante é que, embora o banheiro pareça limpo a olho nu, os respingos se acumulam entre as limpezas semanais. Em uma simulação que reproduziu dez micções em pé ao longo de cinco dias, os testes mostraram acúmulo progressivo de gotículas no vaso, no chão e em superfícies próximas. Esse acúmulo ajuda a explicar um problema comum: o mau cheiro persistente no banheiro, mesmo quando não há sujeira aparente. Pequenas quantidades de urina espalhadas evaporam, mas deixam resíduos que favorecem o odor ao longo do dia. Os médicos lembram, porém, que a descarga do vaso sanitário é uma fonte ainda mais relevante de aerossóis, liberando partículas de água e microrganismos no ar. Fechar a tampa antes de dar descarga, ventilar o ambiente e higienizar superfícies próximas ao vaso têm impacto sanitário maior do que apenas a posição adotada para urinar. Não é obrigação, é escolha informada Para homens jovens e sem sintomas urinários, não há indicação médica para mudar o hábito por razões de saúde, embora a posição sentada ajude a reduzir respingos e facilite a higiene do banheiro. Já entre aqueles com jato fraco, dificuldade para iniciar a micção, sensação de esvaziamento incompleto, noctúria ou próstata aumentada, urinar sentado pode trazer mais conforto e favorecer o esvaziamento da bexiga. “Não é uma regra, nem uma obrigação. É uma escolha de autocuidado que pode fazer sentido em determinadas fases da vida”, resume Eduardo Mazzucato, urologista do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas.