Papa Leão XIV pede alternativas para rejeitar a violência no Oriente Médio e fim dos 'ataques e hostilidades' no Líbano
Leão XIV se encontra com líderes religiosos no Líbano O papa Leão XIV pediu nesta terça-feira (2) que "novas abordagens" sejam adotadas para rejeitar a vio...
Leão XIV se encontra com líderes religiosos no Líbano O papa Leão XIV pediu nesta terça-feira (2) que "novas abordagens" sejam adotadas para rejeitar a violência no Oriente Médio e o fim dos "ataques e hostilidades" no Líbano, que enfrenta bombardeios de Israel em meio a um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah. “O Oriente Médio precisa de novas abordagens para rejeitar a mentalidade de vingança e de violência, superar as divisões políticas, sociais e religiosas e abrir novos capítulos em nome da reconciliação e da paz (...) O caminho da hostilidade mútua e da destruição no horror da guerra já durou tempo demais, com resultados deploráveis. (...) Precisamos educar nossos corações para a paz”, declarou o pontífice, sem dar mais detalhes sobre quais poderiam ser essas novas abordagens. ✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Os pedidos ocorreram durante uma missa em Beirute, capital do Líbano, que teve 150 mil pessoas presentes. A cerimônia foi o último ato de sua primeira viagem internacional como pontífice, que viajou de volta para Roma nesta terça-feira. Nos últimos dias, o papa visitou a Turquia e o Líbano, antigas terras bíblicas onde ele tem defendido o avanço da unidade cristã e religiosa em geral, bem como a causa da paz. Na segunda, ele se reuniu com líderes de comunidades religiosas do Líbano e pediu a coexistência pacífica das diferentes crenças na região. (Leia mais abaixo) Papa Leão XIV acena para multidão durante missa em Beirute, no Líbano, em 2 de dezembro de 2025. REUTERS/Mohamed Azakir Na missa desta terça, o papa Leão XIV também fez um apelo pelo fim dos “ataques e hostilidades” no Líbano. Há pouco mais de um ano, em novembro de 2024, Israel e o grupo rebelde Hezbollah firmaram um acordo de cessar-fogo para interromper a guerra direta travada entre eles no sul do território libanês durante cerca de dois meses. Apesar da trégua, o Líbano tem sido alvo de frequentes bombardeios israelenses por acusações de reagrupamento do grupo no sul do país, algo que Israel diz ser uma ameaça à segurança nacional. O mais recente deles foi em 23 de novembro, quando um ataque matou o chefe militar do Hezbollha nos subúrbios do sul de Beirute. "Expresso meu desejo de paz, juntamente com um apelo sincero: que cessem os ataques e as hostilidades (...) Devemos reconhecer que a luta armada não traz benefício algum. Enquanto as armas são letais, a negociação, a mediação e o diálogo são construtivos. Que todos nós escolhamos a paz como um caminho, não apenas como um objetivo", disse o papa, sem mencionar nenhum dos lados do conflito. Leão XIV também encorajou os cristãos do Oriente Médio —minoria na região— a “serem corajosos”. Encontro inter-religioso no Líbano O Papa Leão XIV reza diante do túmulo de São Charbel Makhlouf no Mosteiro de São Maroun, em Annaya, Líbano. AP Photo/Domenico Stinellis, Pool O principal compromisso do papa Leão XIV desta segunda-feira foi um encontro inter-religioso na Praça dos Mártires, em Beirute, com os patriarcas cristãos do país e líderes espirituais sunitas, xiitas e drusos reunidos sob uma tenda. Após ouvirem hinos e leituras da Bíblia e do Alcorão, Leão elogiou a tradição libanesa de tolerância religiosa como um farol do “dom divino da paz” na região. "Que cada toque de sino, cada 'adhan', cada chamado à oração se fundam em um único e sublime hino", disse ele, usando o termo árabe para a chamada muçulmana à oração. O local escolhido para a cerimônia também carrega um simbolismo: por lá passava a chamada "linha verde" até os anos 1990, que dividia os habitantes cristãos e muçulmanos pela capital do país. “Numa época em que a coexistência pode parecer um sonho distante, o povo do Líbano, ao mesmo tempo que abraça diferentes religiões, representa um poderoso lembrete de que o medo, a desconfiança e o preconceito não têm a última palavra, e que a unidade, a reconciliação e a paz são possíveis”, afirmou. As palavras do papa ressaltaram a importância vital do Líbano e de sua comunidade cristã para a Igreja Católica, um lugar que João Paulo II descreveu como mais do que apenas um país, mas uma mensagem de liberdade para o resto do mundo. Ao final do evento, os líderes espirituais plantaram uma muda de oliveira como símbolo da paz. O Líbano é um dos países mais religiosamente diversos do mundo, com diferentes vertentes islâmicas (como sunitas, xiitas e alauítas), cristãs (maronitas, católicos armênios, ortodoxos, siríacos etc), entre e de outras religiões. Embora o Líbano seja hoje frequentemente citado como um modelo de coexistência religiosa, nem sempre foi assim. A guerra civil do país, de 1975 a 1990, foi travada em grande parte segundo linhas sectárias. Momento de tensão A visita de Leão XIV ocorre em um momento de profunda tensão para o pequeno país mediterrâneo, após anos de conflitos, crises econômicas e impasse político, culminando com a explosão no porto de Beirute em 2020. Em meio ao conflito em Gaza e ao agravamento das tensões políticas no Líbano, a visita do papa foi recebida pelos libaneses como um sinal de esperança. “Nós, libaneses, precisamos desta visita depois de todas as guerras, crises e desespero que vivenciamos”, disse o padre Youssef Nasr, secretário-geral das Escolas Católicas do Líbano. “A visita do Papa dá um novo impulso aos libaneses para se reerguerem e se manterem unidos em seu país.” Mais recentemente, o Líbano tem estado profundamente dividido devido aos apelos para que o Hezbollah, grupo militante e partido político libanês, entregue as armas após a guerra travada com Israel no ano passado, que deixou o país em grande sofrimento. Apesar do cessar-fogo, Israel tem realizado ataques aéreos quase diários contra membros do Hezbollah. O Grande Mufti sunita do Líbano, Abdul-Latif Derian, deu as boas-vindas a Leo no evento inter-religioso e lembrou as boas relações forjadas por seu antecessor, o papa Francisco. Ele citou a declaração conjunta de 2019 sobre a fraternidade humana, assinada por Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar, centro de estudos sunitas no Cairo, Sheikh Ahmad al-Tayeb. “O Líbano é a terra desta mensagem”, disse Derian. Um importante clérigo xiita libanês, Ali al-Khatib, vice-presidente do Conselho Supremo Islâmico Xiita, pediu a Leão que ajudasse o Líbano a pôr fim aos ataques de Israel, em meio às crescentes preocupações no país mediterrâneo com a possibilidade de uma maior disseminação dos ataques israelenses. “Colocamos o Líbano em suas mãos para que talvez o mundo nos ajude”, disse al-Khatib. Cristãos no Líbano Leão começou o dia rezando no túmulo de São Charbel Makhlouf, um santo libanês venerado por muitos cristãos e muçulmanos. Todos os anos, centenas de milhares de peregrinos, cristãos e muçulmanos, visitam o túmulo no mosteiro de São Maroun, no alto de uma colina com vista para o mar em Annaya, a cerca de 40 km de Beirute. Hoje, os cristãos representam cerca de um terço dos 5 milhões de habitantes do Líbano, o que confere a esta pequena nação na costa leste do Mediterrâneo a maior porcentagem de cristãos no Oriente Médio. Um acordo de partilha de poder em vigor desde a independência da França prevê que o presidente seja um cristão maronita, tornando o Líbano o único país árabe com um chefe de Estado cristão. O Vaticano considera a presença cristã um baluarte para a Igreja na região. Os cristãos libaneses resistiram em sua terra natal mesmo após o êxodo decorrente da guerra civil no país. A região também testemunhou a fuga em massa de cristãos do Iraque e da Síria após a ascensão do grupo Estado Islâmico, derrotado em 2019 depois de perder seu último reduto na Síria.