Perícia em parte de bebidas apreendidas em SP descarta uso de metanol na lavagem de garrafas
Perícia mostra que metanol foi adicionado em parte de garrafas apreendidas em SP O perito criminal do Centro de Exames, Análises e Pesquisas do Instituto de C...

Perícia mostra que metanol foi adicionado em parte de garrafas apreendidas em SP O perito criminal do Centro de Exames, Análises e Pesquisas do Instituto de Criminalística de São Paulo (IC/SP), Alexandre Learth Soares, afirmou que a análise de dois grupos de garrafas de bebidas destiladas apreendidas em fiscalizações na capital paulista descartou a possibilidade de que o metanol presente nas amostras tenha se originado da lavagem das garrafas com o produto. Segundo ele, as análises mostraram que o líquido era praticamente só metanol, o que também elimina a possibilidade de contaminação por uma destilação natural malfeita. Na terça-feira (7), o Instituto de Criminalística informou à TV Globo que as concentrações de metanol encontradas indicaram que a substância foi adicionada, não sendo produto da destilação natural. O instituto não divulgou a quantidade de garrafas analisadas nesses dois grupos nem os tipos de bebida. Os locais em que as garrafas foram apreendidas também não foram informados. “As nossas análises são focadas primeiro em detectar se há ou não metanol, e se há ou não metanol numa concentração acima dos limites legais permitidos. Uma vez detectado esse metanol acima dos limites legais, a gente faz a quantificação. Quando a gente fez a quantificação de metanol nessas garrafas adulteradas, nós constatamos que a concentração era muito alta, praticamente só metanol — quase não havia etanol nas garrafas, afirmou. E ressaltou: “Isso permite que a gente descarte a hipótese de que uma destilaria de fundo de quintal, por meio de um processo irregular, tenha feito uma destilação mal feita que resultasse em etanol contaminado por metanol. As concentrações encontradas não são compatíveis com essa hipótese. Também permitem descartar a possibilidade de que esse metanol tenha vindo da lavagem das garrafas, porque, se tivessem sido lavadas com metanol e depois preenchidas com etanol, haveria predominância de etanol e uma concentração mais baixa de metanol. Não foi o que observamo. Vimos uma predominância de metanol sobre etanol. Isso permite, então, que a gente exclua tanto a hipótese de destilação mal feita quanto a de lavagem com metanol. Estamos trabalhando com um produto realmente adulterado com metanol.” LEIA TAMBÉM: Perícia indica que metanol foi adicionado em parte de garrafas apreendidas em SP e não surgiu da destilação natural O perito explicou que os exames são complexos e vêm sendo realizados em regime de força-tarefa, com análises contínuas. “As análises estão a todo vapor. Elas estão acontecendo 24 horas por dia. A força-tarefa trabalhou sábado, domingo, está trabalhando à noite, trabalhou final de semana. São análises complexas, é uma análise multiescalonada. A gente tem que primeiro fazer a análise documentoscópica do produto que entra, então a gente vê se existem sinais de adulteração em selos, tampas, rótulos e qualquer outra parte da embalagem, para depois partir para a análise químia", explicou. "A gente faz uma análise por triagem rápida com um equipamento que a gente chama de hamã. Depois, a gente faz uma análise cromatográfica em um equipamento chamado cromatógrafo gasoso, onde é constatada ou não a presença de metanol. Se é constatada a presença de metanol, a gente faz uma quantificação desse metanol. São esses últimos dados que foram divulgados para a Secretaria de Segurança, que permitem a gente chegar à conclusão de que realmente as bebidas foram adulteradas com a adição de metanol." 🔍 O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, é altamente perigoso quando ingerido. Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte. Também pode provocar insuficiência pulmonar e renal. Ele reforçou ainda que o trabalho do Instituto de Criminalística busca garantir rigor e objetividade para subsidiar as investigações e futuras ações judiciais. “As investigações estão em curso. Então, informações adicionais são importantes se obter com a investigação. O foco da perícia é trazer ciência e objetividade ao processo. A gente está trabalhando com o máximo rigor, a máxima dedicação, para produzir uma prova fidedigna que possa tanto orientar a investigação quanto futuramente embasar a Justiça em processos criminais.” Na última sexta-feira (3), o Instituto de Criminalística criou uma força-tarefa para analisar as garrafas apreendidas durante fiscalizações para apurar a adulteração e contaminação por metanol. Segundo o último boletim divulgado pelo governo de SP, 16 mil garrafas foram apreendidas desde o dia 29. O g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública se a higienização de garrafas com metanol continua como a principal linha de investigação da polícia para intoxicações, mas não houve resposta até a última atualização desta reportagem. Perícia confirma presença de metanol adicionado em bebidas apreendidas em SP, diz Polícia Científica Reprodução/TV Globo LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Tarcísio se desculpa por brincadeira com Coca-Cola durante coletiva sobre casos de intoxicação por metanol: 'Errei' Veja como é feito o trabalho do Instituto de Criminalística de SP para analisar presença de metanol em bebida alcoólica Fomepizol: antídoto do metanol tem 'dose de ataque'; entenda como é o tratamento e como age no organismo Casos em São Paulo Antídoto contra intoxicação por metanol chega ao Brasil nos próximos dias Nesta terça, o estado de São Paulo confirmou 18 casos de intoxicação por metanol no balanço divulgado pelo governo. Há 158 sendo investigados e 38 casos foram descartados. 176 casos 18 confirmados (há laudo atestando presença de metanol e confirmação de circunstâncias que indicam que a pessoa ingeriu bebida adulterada); 158 em investigação (há indícios clínicos, mas aguardam laudo para confirmar presença de metanol e investigações para entender circunstâncias de eventual ingestão da substância). 10 mortes 3 óbitos confirmados (com laudo e confirmação de ingestão de bebida adulterada); 7 mortes em investigação (sem laudo e sob investigação das circunstâncias). 85 casos descartados após análise clínica Apreensões A força-tarefa do governo paulista apreendeu na segunda-feira (6) mais de 100 mil vasilhames vazios em um galpão clandestino localizado na Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo. Interdições A força-tarefa que fiscaliza bares e distribuidoras desde a semana passada vistoriou 18 estabelecimentos, 11 deles foram interditados cautelarmente por conta de questões sanitárias. Seis distribuidoras e dois bares tiveram a suspensão preventiva da inscrição estadual: Bebilar Comercial e Distribuidora de Alimentos e Bebidas (4 inscrições), Brasil Excellance e Exportadora de Bebidas, BBR Supermercados, FEC Alves Mercearia e Adega, e Lanchonete Ministro. Metanol: Lewandowski diz que caminhões de combustível abandonados são alvo de investigação Investigações A Polícia Civil de São Paulo trabalha com duas linhas principais de investigação sobre as bebidas "batizadas" com metanol. Uma delas é que o metanol teria sido usado para a higienização de garrafas reaproveitadas que acabaram não indo para a reciclagem, segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Outra hipótese é o uso do metanol para aumentar na produção o volume de bebidas falsificadas. Uma possibilidade é que a intenção do falsificador fosse adicionar etanol puro, sem saber que o produto estava contaminando com metanol. Já a Polícia Federal diz que não dá para descartar nenhuma hipótese no momento, inclusive a de que os casos tenham ocorrido após a megaoperação contra o crime organizado, realizada no final de agosto, que mirou um esquema bilionário no setor de combustíveis. Nesta terça-feira (7), o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, comentou essa possibilidade durante o anúncio da criação de um comitê informal de enfrentamento da crise do metanol. "Se esse metanol tiver origem em combustíveis fósseis, é outra hipótese de investigação. Recentemente, tivemos uma enorme ação de combate de infiltração do crime organizado na área de combustíveis e muitos tanques de metanol foram abandonados depois dessa operação. Essa é uma hipótese que está sendo estudada pela Polícia Federal", afirmou. Tarcísio se desculpa por brincadeira com Coca-Cola durante coletiva sobre casos de intoxicações