Primeiro MC cego de Araraquara se destaca em cenário hip hop local: 'estou quebrando barreiras'
Luiz Guilherme Palácio participa ativamente da Batalha da Fonte e também toca sanfona e teclado em banda da região. MC cego de Araraquara quebra barreiras e...
Luiz Guilherme Palácio participa ativamente da Batalha da Fonte e também toca sanfona e teclado em banda da região. MC cego de Araraquara quebra barreiras e ganha destaque no cenário hip hop da cidade Rimas afiadas, inclusão e muita batalha podem definir parte da vida musical de Luiz Guilherme Palácio Arraes, o MC Palácio, de 29 anos, de Araraquara (SP). Cego, ele é o primeiro MC com deficiência visual da cidade e vem participando da concorrida Batalha da Fonte, onde MCs desafiam um ao outro com frases certeiras. 📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsApp Natural do Ceará, o músico multi-instrumentista cresceu ouvindo repente e embolada, e naturalmente encontrou na cultura hip hop espaço para as suas ideias e poesias. Afiado, ele desafia outros rappers e já levou uma “folhinha” para casa. A folha é tipo um troféu da batalha com os nomes dos participantes e o ganhador. “É uma sensação deliciosa ganhar a Fonte e saber que eu sou o primeiro MC cego da cidade e eu pretendo levar essa bandeira, né? Porque é um passo gigantesco, MC com deficiência levando uma folhinha como da Fonte é algo que eu considero quebrar barreira, é extraordinário. Se não teve um PCD que chegou eu quero ser o primeiro a chegar. E para isso, vou trabalhar e treinar bastante”, disse. Deficiente visual MC Palácio é um multimúsico autodidata e participa do movimento hip hop de Araraquara Arquivo pessoal O músico contou que é cego total dos dois olhos devido a uma retinopatia. A doença afeta a retina e pode estar ligada a prematuridade. “Minha cegueira vem devido à retinopatia porque nasci de cinco meses, e isso acabou contribuindo”, contou. Para se familiarizar no ambiente, o MC diz que faz um mapa mental através de um desenho e sente a energia do local. Por exemplo, ele desenha os degraus da praça, o palco, e plateia em volta da roda de rima. “Eu tenho essa noção do mapa mental para me localizar principalmente no palco. Conforme você vai acostumando com alguns cenários, eles vão ficando automático na sua cabeça, né? Enxergo com outros sentidos, o coração sente mesmo a energia. Eu sinto que a minha voz é cor e interpreto melhor. Sinto que eu consigo passar o que eu realmente quero com a rima e com microfone, ele vira parte de mim”, contou. LEIA TAMBÉM: INCLUSÃO: Mãe encontra no rock um caminho para integrar o filho com autismo: 'Lá ele pode ser quem é', diz INFLUÊNCIA: Do boteco aos palcos: filhos se inspiram e seguem os passos dos pais na escolha da profissão REGIÃO: Dono de loja de armarinho usa WhatsApp e entregas para vender mais em Araraquara; livreiro fatura em sebo ao unir música e literatura Multimúsico Além de rapper, ele é sanfoneiro e tecladista e também toca em bailes pela noite. Com muita determinação e musicalidade, ele vem mostrando o seu talento em bandas e bares da região. O músico contou que desde criança ouvia muita música e se apaixonou pelos ritmos nacionais, entre outros. Embora trabalhe como programador de materiais, a paixão pelo som é algo inato. Autodidata, consegue tocar as notas só de ouvi-las, mas não parou por aí e também foi estudar em escolas de música. “Eu comecei a tocar com 5 anos de idade e tenho ouvido absoluto. Eu era aquele tipo de criança que já ouvia a música e mesmo sem saber o nome técnico das coisas, dos sons que eu estava ali escutando já conseguia diferenciar as notas. Comecei tocando sanfona, mas depois eu estudei, fiz aulas de teclado, violão. Enfim, o meu encontro com a música partiu daí. E aí com as rimas também não foi tão diferente. Sou do nordeste, minha mãe acabou embutindo em mim esse lance da cultura repentista e a rima desde pequeno”, disse. Uma das influências é a dupla Caju e Castanha, referência da embolada nordestina. Hip Hop e inclusão Há um ano, MC Palácio se dedica ao hip hop e começou a frequentar as batalhas da Fonte em agosto de 2024. O músico comentou sobre a importância da inclusão no cenário e como o hip hop, aos poucos, está mudando esta realidade. “Lógico que a questão da pessoa com deficiência ainda engatinha em várias áreas, e a inclusão no hip hop também está começando. Vamos ser muito também muito sincero, quantos cegos colavam na roda? Você só vai saber lidar com uma coisa se ela estiver ali, quando ela fizer parte da sua realidade, né? Não tinha deficiente na roda. O hip hop ainda engatinha na questão do nicho PCD. Mas diferente de muitas outras áreas, o cenário abraça mesmo. E quer aprender. Eles perguntam como que podem fazer, e vão atrás de informações. E é com informação que a gente vai mudar o mundo ', contou. MC Palácio durante apresentação na Batalha da Fonte em Araraquara Jonatan Dutra/Divulgação REVEJA VÍDEOS DA EPTV CENTRAL: Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara