Secretaria de Educação diz que não sabia de bullying contra menino de 10 anos que perdeu visão após agressão em escola do Rio
Secretaria de Educação diz que não sabia de bullying contra menino de 10 anos que perdeu visão após agressão em escola do Rio A Secretaria de Educação d...
Secretaria de Educação diz que não sabia de bullying contra menino de 10 anos que perdeu visão após agressão em escola do Rio A Secretaria de Educação do Rio diz que não tinha conhecimento dos episódios de bullying contra um aluno de 10 anos da Escola Municipal Leonel Azevedo, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. O menino perdeu a visão do olho direito depois de ser agredido dentro do colégio. A mãe dele diz que reportava a situação para a direção da escola desde 2023 e que chegou a ir na Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Segundo a mãe, Lídia Loiola Cardoso, o filho está no 5º ano do ensino fundamental e era alvo de bullying por causa de uma diferença física nos olhos, decorrente de glaucoma congênito. “Meu filho estuda aqui há 5 anos. Do ano passado para cá, começou a mudar o comportamento, não queria mais vir para a escola, nem ficar em sala de aula. Eu me preocupava e vinha na direção para tentar entender, mas nunca tivemos resposta”, contou. Além disso, ela também tentou ajuda no Conselho Tutelar e até mesmo no 1746, que é a central de atendimento da prefeitura do Rio. O aluno agredido e a irmã dele prestaram depoimento nesta quarta-feira (3) na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV). A polícia quer ouvir mais testemunhas e pediu as imagens de câmera de segurança da escola. "Deixei meu filho bem, com as duas visões, e ele voltou com uma. Não afetou somente a ele, tem afetado a mim, o irmão, eu já não me reconheço mais. Tô cansada, dias acordada, trocando dia pela noite. Ele chora bastante, sente dor, pede pra arrancar o olho, fala 'mãe, tira meu olhinho, tá doendo'", desabafa a mãe. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça As agressões, segundo Lídia, vinham de alunos mais velhos, do 7º e 8º ano. A Secretaria Municipal de Educação disse que abriu uma sindicância pra apurar o caso e que já ouviu o diretor da escola. Apesar da mãe reunir diversos registros de agressões que vinham acontecendo desde 2023, a secretaria afirma que não sabia dessas situações. "Os fatos que foram relatados ao longo desse ano não diziam respeito a bullying. O fato de bullying a gente só teve conhecimento a partir desse fato específico. Nos anos anteriores, não tem esse registro. A sindicância vai apurar melhor", afirma Hugo Nepomuceno, subsecretário articulação e integração de redes. Segundo a Secretaria de Educação, qualquer caso de violência ou bullying dentro de uma escola, a direção da unidade deve registrar em ata, com o relato de tudo que aconteceu. Na sequência, deve comunicar ao Conselho Tutelar. Se o agressor tiver mais de 12 anos de idade, a direção da escola deve abrir um boletim de ocorrência . E paralelamente, a escola deve fazer um trabalho pedagógico, ouvindo os alunos. "A responsabilização não é só do aluno que agrediu, a responsabilização deve vir da escola. Eu espero, do fundo do meu coração, que as pessoas responsáveis pela falta de cuidado e as pessoas responsáveis por entregar o meu filho daquela forma venham ser responsabilizadas, porque não são duas, não são três, é uma serie de pessoas", destaca a mãe. Menino precisou ser hospitalizado Reprodução/TV Globo Os casos de agressões O primeiro episódio teria acontecido em 2023, quando a irmã do menino, de 6 anos, tentou defendê-lo e também teria sido agredida. Em abril de 2024, o caso foi registrado em ata. Meses depois, outro aluno colocou o pé na frente do garoto, que caiu e quebrou o pé. A mãe afirma que a direção disse que ele “tinha se jogado”, apesar de relatos contrários de colegas. Ao longo do ano passado, o menino teria sofrido com piadas, teve os óculos quebrados e, em maio deste ano, foi empurrado, caiu e fraturou o nariz. Lídia diz que procurou ajuda no Conselho Tutelar e na Corregedoria Regional de Educação, mas nunca houve reunião para tratar do caso. O episódio mais grave ocorreu no último dia 18 de novembro, durante uma aula de educação física. O menino levou chutes e um soco no olho. Ele foi levado para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha, e, depois, transferido para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. A pancada deslocou a retina, e o laudo definitivo apontou perda irreversível da visão. Menino perdão lesão do olho após bullying e agressões na Ilha Reprodução/RJ2 “É uma sensação de impunidade, de algo que aconteceu com meu filho, mas pode acontecer com qualquer um. Algo que prejudicou até mesmo o futuro dele”, desabafou Lídia. O pediatra Daniel Becker classificou o caso como “terrível” e criticou a falta de intervenção da escola: “Quando uma criança tem glaucoma, o olho nasce maior por causa da pressão alta. A violência que esse menino sofreu e a negligência da escola são gravíssimas”. O que dizem os citados O RJ2 questionou a pasta quais foram as medidas a direção da escola adotou desde a primeira denúncia de agressão, em 2023, e o que será feito após o episódio mais recente. Em resposta, a secretaria informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso e que só foi notificada nos últimos dias. Disse ainda que o aluno apontado como autor da agressão foi transferido para outra unidade. Segundo a pasta, em situações de bullying, as escolas seguem o Protocolo de Prevenção, Proteção e Segurança Escolar, que prevê convocação dos responsáveis, comunicação ao Conselho Tutelar e acompanhamento da convivência dos estudantes. A secretaria acrescentou que assistentes sociais e psicólogos realizaram diversas ações de prevenção à violência e ao bullying na Escola Leonel Azevedo ao longo deste ano. Escola onde menino foi agredido e perdeu a visão na Ilha do Governador Reprodução/RJ2